A DOR QUE DÓI MAIS
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
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Que lindo esse poema!
ResponderExcluirAdoro Martha Medeiros.
Beijos.
Lu, ARRAZÔ GATA! Li, me comovi, sorri e recomendei! Sem contar que combina SUPER com um período particular com que passei a uns tempos atrás. Nossa, excelente! :)
ResponderExcluirLu,
ResponderExcluirEstou passando por aqui p/ desejar-lhe um ano vitorioso, cheio de realizações e metas alcançadas. Enfim, um ANO MARAVILHOSO!
Que muitos romances sejam lidos e apreciados.
Que possamos encarar com seriedade e bom humor as adversidades da vida e as peças que ela nos prega em nossa jornada cheia de percalços.
Que venha muitas emoções de alegria e felicidade; novos amigos, ainda que os amigos verdadeiros, permaneçam fiéis em sua amizade e lealdade.
Que você desfrute de um ano abençoado cheio de paz, amor, felicidade, realizações, sonhos realizados, metas alcançadas, muita prosperidade e saúde para dar e vender.
Que neste ano, continuemos a compartilhar juntos o gosto mútuo pela leitura, que é inovador, inspirador e enriquecedor! Não só compartilhar nossas leituras, mas também outros assuntos afins.
Vamos celebrar juntos mais essa nova jornada!
Conto com você e suas amigas no meu blog Sonho de Reflexão!
Beijos.
Carla.
Hey Lu! Saudades de vc! :P (ironia)
ResponderExcluirViajar acaba com a rotina, eu tava ansiosa pra passar aqui e te deixar um beijo!
feliz 2010!
xxx
Ana